sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Lendas e Motores - Lancia Thema 8.32


Diz-se que a ideia de construir um Thema com um motor Ferrari surgiu como uma brincadeira por parte dos técnicos da Lancia. Desta brincadeira surgiu algo que ficará na história como um dos melhores exemplos do que a industria automóvel Italiana consegue combinar como mais nenhuma outra no mundo: classe e desportivismo.

Apresentado no Salão Automóvel de Turim em 1986, o Thema 8.32 (8 cilindros e 32 válvulas) assumia-se como o modelo topo da família Thema e visava concorrer directamente com as berlinas alemãs da BMW e Mercedes. A plataforma deste sedan derivava de um projecto comum (denominado Tipo 4) que servia de base ao Fiat Croma, Saab 9000 e mais tarde ao Alfa Romeo 164. 


Embora mantivesse as linhas de carroceria originais criadas por Giugiaro, o 8.32 distingue-se exteriormente dos restantes Themas por alguns promenores subtis:
Uma nova grelha em aluminio com um desenho inspirado nos Ferraris de competição dos anos 50 integrava o logotipo 8.32 em fundo amarelo sob 3 listas com as cores da bandeira Italiana (inspirado no escudo da Ferrari). Sob esta encontrava-se um novo para-choques dianteiro com spoiler integrado que albergava os farois de nevoeiro e uma maior tomada de ar. À semelhança dos Delta integrale, o 8.32 possuia também umas discretas saias laterais que faziam sobressair as jantes Speedline em alumínio de 15" com 5 pontas,cujo desenho era tipicamente Ferrari.Uma lista bicolor percorre todos os paineis laterais do carro e a tampa da mala e integrado nesta, um spoiler electrico de accionamento manual que fica totalmente camuflado quando é recolhido. Os frisos dos vidros deixam de ser cromados para assumir um tom escuro. Na traseira pode ainda ver-se uma dupla ponteira de escape cromada.


Se no exterior as diferenças em relação aos Themas "normais" são discretas, é no interior que o requinte e o classicismo fazem deste 8.32 o demarcam dos restantes automóveis da época:
Todo o interior (estofos, paineis e pegas das portas, tablier, consola central, volante, punho da caixa, travão de mão e respectivos foles são forrados a pele genuina cosida à mão da reputada casa "Poltrona Frau". A aplicação de raiz de nogueira extende-se das portas para o tablier, moldada em redor de manómetros redondos com um exclusivo lettering amarelo. Destes manometros destacam-se um velocimetro garduado até aos 280km/h, um tacómetro com um redline a partir das 7500 rmps, e varios indicadores incluindo um check-panel e indicadores de temperatura e pressão de óleo.
O ambiente confortavel culmina com o acabamento em Alcantara do tecto.

De referir o luxuoso nível de equipamento para a época que incluia bancos eléctricos (frente e trás) e aquecidos, ABS (1º carro italiando a incluir este dispositivo de série)e ar condicionado automático. As últimas gerações possuiam já amortecimento com controlo electrónico e encostos de cabeça traseiros rebativeis automáticamente.


Mas sem margem para dúvidas, a pièce de résistence encontrava-se escondida debaixo do capô. Um V8 com a mensagem "Lancia by Ferrari" escrita sobre a conduta de admissão era mais que reveladora da origem do grupo propulsor. Com 2927cm3, esta unidade em liga leve com 8 cilindros a 90º de 32 válvulas derivava directamente do Ferrari 308 QV. Com algumas modificações para garantir uma maior disponibilidade a baixo regime, perdia potência máxima em relação à unidade que equipava o ferrari mas ganhava em binario. Alimentado por uma injecção electro-mecânica Bosh KE3 Jetronic, debitava uma potência máxima de 215 cv às 6750 rpm e um binário de 29 Kgm às 4500 rpm. Estes valores permitiam-lhe perder apenas 0.2s na aceleração dos 0-100km/h em relação ao parente de Maranello, registando a cifra de 6.8s. O 1º quilometro era atingido em 26,8 segundos e a velocidade máxima ficava-se pelos 240km/h. As restantes modificações mecânicas feitas para manter todos os puro-sangues dentro da estrada passavam por um reforço da caixa de velocidades, uma maior embraiagem, uma direcção assistida de controlo electrónico ZF e maiores discos de travagem à frente assistidos por um ABS Bosch. A taragem das molas e amortecedores também foi alterada, a barra estabilizadora dianteira foi modificada e a altura ao solo reduzida.


Entre 1986 e 1991 um total de 3,537 Themas 8.32 foram construidos (2,370 da Serie 1 e 1,167 da Serie 2). Foi também construida uma Thema 8.32 SW que foi oferecida ao presidente da Fiat Gionavi Agnelli e 64 series especiais em vermelho Ferrari (32 serie 1 e 32 série 2).
Caso quisesse um de verdade, o comprador era convidado a ir até a fábrica em San Paolo, a conversar com os engenheiros, ver o carro a ser montado e ainda a acompanhar o piloto de testes na primeira volta antes da entrega. Não está escrito em lugar algum que os alemães ou ingleses não faziam o mesmo, mas esse conceito caiu como uma luva aos italianos. Talvez quem comprasse um Thema V8 tivesse opções mais racionais, baratas e provavelmente mais rápidas na concorrência. O BMW M5 tinha um seis-em-linha de 286 cv, tração traseira e ainda era mais barato. Talvez fosse um carro melhor, mas hoje certamente geraria menos surpresa.
Fonte : Fórum Motor Auto Clássico- Daseeker.


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