1984 - Hannu Mikkola - Portugal |
A tradicional ronda de Sintra – com as três passagens pelas provas especiais da Lagoa Azul, Peninha e Sintra colocara já na frente do rali – depois do domínio inicial do “jovem lobo” Henri Toivonen (conseguindo vitórias sucessivas nos 5 primeiros troços, batendo exuberantemente os records dessas provas, nomeadamente com 2m10s na Lagoa Azul, voando com uma média de 127 km/hora! – uma promessa e um “ídolo nascente”… que viria a ter um destino fatal dois anos depois, como tantas vezes acontece com alguns dos mais predestinados) – Markku Alen, comandando a armada dos Lancia Rally (com Attilio Bettega e Massimo Biasion a ocuparem as posições imediatas), posição que “herdara” de Toivonen, na sequência do seu despiste e desistência na 2ª passagem por Sintra, na descida da rampa da Pena. Alen tinha então, no final das primeiras 9 “especiais”, cerca de 1 minuto e 10 segundos sobre o melhor Audi, de Mikkola.
Henri Toivonen/Sergio Cresto (Lancia Rally 037) Portugal 1984 - Sintra 3 |
No restante da 1ª etapa, também com troços em asfalto, até à Póvoa de Varzim, os Lancia continuaram a dominar, com vitórias repartidas de Bettega e Biasion. E, no final do primeiro dia – após 15 troços de classificação -, Biasion liderava a geral, seguido por Bettega… a 2 segundos, e por Markku Alen, a 1 minuto e 40 (todos em Lancia Martini – que contava ainda com a excelente prestação do português António Rodrigues, em 7º, a cerca de 4 minutos). Mikkola, em 4º, continuava a ser o melhor da Audi, a 2 minutos e 25 segundos de Biasion, com Stig Blomqvist em 6º (Jean Ragnotti, em Renault, era então o 5º classificado).
Mas, logo no início da segunda etapa, as coisas começavam a mudar de figura: Walter Rohrl, Blomqvist e Mikkola passavam a registar os melhores tempos nas provas especiais de classificação, com Alen, “cerrando os dentes”, a intrometer-se com dificuldade entre a esquadra da Audi, que entrara de rompante no segundo dia de prova, ao mesmo tempo que ganhava tempo aos seus colegas de equipa. Na geral, Attilio Bettega passara entretanto para a frente, até à 2ª passagem por Arcos-Portela, em que Markku Alen assumiu novamente a liderança.
Nos troços de terra do Minho – em particular com uma melhoria na segunda passagem -, a Lancia ia resistindo, procurando manter a vantagem: no final da segunda etapa (após 25 troços), Alen era o primeiro, com 40 segundos de vantagem sobre Bettega e 55 segundos sobre Biasion; o primeiro Audi, de Mikkola, estava a apenas 5 segundos do 3º lugar! Os outros dois Audi, de Rohrl e Blomqvist ocupavam as 5ª e 6ª posições, embora distantes (respectivamente mais de 7 minutos e mais de 10 minutos de Alen).
A terceira etapa, começando a inflectir para sul, em direcção ao centro do país, viria a revelar-se decisiva. Alen “abria a estrada” e beneficiava de tal facto para poder correr com a pista livre das nuvens de pó levantadas pelos carros. Recorrendo a um “truque estratégico”, a Audi fez Rohrl avançar na “fila de partida” para cada troço (ele que, pela classificação, deveria seguir-se a Mikkola), o qual, logo depois de partir, esperava que Mikkola o ultrapassasse, usufruindo este de um intervalo de dois minutos desde que o terceiro Lancia passava pelos troços, pelo que conseguia também conduzir “a fundo”, sem ser limitado pela poeira da estrada.
Rapidamente (logo na 28ª prova de classificação, em Cabreira) Mikkola assumiria o comando da prova… com 1 segundo de vantagem sobre Alen. No final da 3ª etapa, após a segunda passagem em Viseu, com 37 provas especiais disputadas, Mikkola liderava – sempre seguido pelos 3 Lancia – tendo então a diferença para Alen aumentado para 43 segundos.
A abrir a 4ª etapa, na primeira passagem em Arganil, Markku Alen entrava novamente “a fundo”, recuperando 33 segundos, colocando-se apenas a 10 segundos de Mikkola. Estava dado o mote para um despique cerrado… quase até ao último metro! Nos troços imediatos, a diferença entre os dois primeiros na geral – ambos arriscando tudo – oscilou da seguinte forma: 9 segundos na Candosa 1; 11 segundos na Lousã 1; 15 segundos após a segunda passagem por Arganil (uma diferença de 4 segundos numa prova especial de 57 km!); 19 segundos na Candosa 2 e também após a segunda passagem na Lousã; no termo de 43 provas especiais de classificação, com mais de 650 km, percorridos em cerca de 7 horas e 19 minutos.
Tudo parecia estar em aberto para os dois últimos troços: Martinchel e Coruche, respectivamente com 9 km e 20 km. Mikkola e Alen recuperavam um duelo particular que haviam protagonizado já em 1978 (então, em Sintra, com vantagem para Alen).
Era então a vez de a Lancia replicar a táctica da Audi: fazia sair antecipadamente Bettega e Biasion, que esperavam depois por Alen, passando este nos troços – desta forma – 6 minutos depois de Mikkola.
No entretanto, ambos os pilotos haviam tido tempo para sobrevoar os troços, de helicóptero, procurando fazer um último reconhecimento do percurso! Contudo, todos os esforços de Alen se viriam a revelar infrutíferos: em Martinchel perdia mais 5 segundos, saindo para a derradeira prova de classificação com um atraso acumulado de 24 segundos, necessitando recuperar um pouco mais que 1 segundo por km em Coruche; acabaria por ceder mais 3 segundos.
O rali chegava ao termo, com a vitória de Hannu Mikkola com 27 segundos de vantagem sobre Markku Alen, comumando assim a “desforra”. Attilio Bettega seria 3º (a quase 23 minutos de Mikkola!); Massimo Biasion o 4º; Jean Ragnotti garantia o 5º lugar; Walter Rohrl terminava em 6º, a quase 46 minutos do seu companheiro de equipa. Jorge Ortigão, em 8º, seria o melhor português, a 1 hora e 44 minutos do primeiro. Terminariam a prova apenas 20 dos 66 pilotos que haviam comparecido à partida.
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