terça-feira, 31 de março de 2015

Lendas e Motores - Datsun 240 Z



O Datsun 240Z veio ao mundo com duas missões particularmente atrevidas: conquistar o mercado norte-americano e dar uma resposta ao Toyota 2000 GT, projeto do designer alemão naturalizado americano Albrecht Graf Von Goertz que nasceu dentro da própria Nissan, em parceria com a Yamaha. O projeto foi recusado em 1964 porque o motor não atendeu às expectativas da Nissan – e daí, Goertz e Yamaha levaram o coupé desportivo para a Toyota, que o lançou em 1965.

No fim daquele mesmo ano, Mr. Yutaka Katayama – o famoso Mr. K -, presidente da Nissan Motors of USA, já tinha uma equipa de designers e engenheiros formada para o projeto Z. Katayama-san queria um coupé desportivo feito para o gosto dos norte-americanos, um pequeno GT com motor potente o suficiente para encarar as longas e infinitas estradas interestaduais norte-americanas.

Mr. Yutaka falou abertamente para sua equipa de designers que gostava muito da fluidez das linhas da carroçaria do Jaguar E-Type, algo que já dava para ser reconhecido nas linhas do projeto de Albrecht. Nas entrelinhas, ficava a certeza de que o inglês agradava e já fazia sucesso no mercado em que eles miravam. Mais subliminar-mente ainda, ficava a eterna admiração misturada com rivalidade dos japoneses da Nissan pela Porsche, algo assumido abertamente pela marca há muito tempo.

Desta mistura, nasceu um pequeno monstro devorador de asfalto. Como veremos, a mistura da inspiração entre Porsche e Jaguar não é meramente estilística.


No Japão, ele herdou o nome do coupé Fairlady 2000 e foi batizado de Nissan Fairlady Z. Nos EUA, ele ficou conhecido como Datsun 240Z (misturando o nome do projeto ao posicionamento do motor, um seis-cilindros em linha de 2,4 litros), por um certo receio de que o nome Fairlady não fosse bem recebido. Esta mesma cautela explica por que a Nissan se chamava Datsun nos Estados Unidos: a fabricante foi para a América do Norte em 1960, quando ainda havia reverberações da Segunda Guerra – especialmente entre os veteranos -, e queria minimizar os riscos. Como Nissan já era um nome muito consolidado no Japão, eles preferiram resgatar de 1930 o nome Datsun, que remete às origens da marca.

O 240Z é um coupé curto (4,14 m de comprimento, entre-eixos de 2,30 m) com a clássica concepção GT: dianteira extremamente baixa, capo longo, para-brisa inclinado, posição de pilotagem praticamente sobre o eixo traseiro e balanços relativamente curtos.

Deste ângulo fica particularmente óbvia a semelhança com o Jaguar E-Type: até a posição das luzes indicadoras é a mesma. Mr. K gostava tanto do Jag XKE que batizou as diferentes gerações do Fairlady Z com os mesmos títulos do E-Type: Series I (Outubro de 1969 até Dezembro de 1970), Series II (Janeiro de 1971 até Agosto de 1971), Series III (Agosto de 1971 até Setembro de 1972), e Series IV (Setembro de 1972 a Setembro de 1973). 



Há algo de italiano e de alemão nesta traseira fastback. Impressiona a proximidade dos bancos com o eixo traseiro – obviamente, é um carro para duas pessoas (também inspirado no E-Type, uma versão 2+2 surgiu pouco depois).

É difícil pensar no 240Z sem lembrar do manga Wangan Midnight, originalmente impresso em 42 volumes entre 1990 e 2008 – e que depois se transformou em, filme e animação. Ele conta a história do street racer Akio Asakura e o seu Fairlady S30 biturbo, comprado após ele ter destruído o seu Nissan 300ZX contra um Porsche 964 Turbo – o “Blackbird”. Este Fairlady é tido como amaldiçoado, por ter assassinado os seus donos anteriores em acidentes semelhantes – todos na estrada onde Asakura faz os seus "picanços", todos compartilhando o seu nome e sobrenome. O “Devil Z”, como é batizado o Nissan, é rápido de forma sobrenatural e é extremamente traiçoeiro ao volante, como se quisesse matar o seu piloto de forma intencional.


Especificações do motor: seis cilindros em linha, 2.393 cc (83 mm de diâmetro x 73,7 mm de curso), bloco de ferro fundido, cabeçote de alumínio com comando simples e duas válvulas por cilindro. A sua potência declarada é bastante conservadora, artimanha de época usada para se enquadrar em cargas reduzidas de impostos e seguradoras: 151 cv a 5.600 rpm (para se ter uma ideia, o motor atinge quase 7.000 rpm original), torque de 20,1 mkgf a 4.400 rpm.

Podemos ver como o motor fica recuado. Mesmo o radiador fica o mais próximo possível do eixo dianteiro, para reduzir a massa sobre o balanço frontal. A distribuição de peso do 240Z é de 52:48, praticamente perfeita.


O 240Z tem travões de disco na dianteira (270 mm), tambor na traseira (230 mm) e suspensão independente nas quatro rodas, com sistemas McPherson na dianteira e Chapman Struts na traseira. Trata-se de uma derivação do McPherson patenteada por Colin Chapman em 1957, em que as próprias semi-árvores do diferencial funcionam como braços de suspensão, em conjunto com bandejas inferiores triangulares – dispensadas por Colin em alguns de seus monopostos.

Números: velocidade máxima estimada em 201 km/h, 0 a 100 km/h em oito segundos (com pneus de época), 1.044 kg.




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