sábado, 17 de maio de 2014

Lendas e Motores - March 881



A March começou a sua caminhada na Formula 1 nos anos 70, tendo passado pelas suas viaturas alguns pilotos consagrados como Ronnie Peterson, Andrea de Adamich, David Purley e Hans-Joachim Stuck. Depois de um período de interrupção, entre 1977 e 1987 (embora tenha feito aparições ocasiões em 1981 e 1982, através de chassis cliente), a March regressou à categoria que lhe havia dado maior fama.

Após um ano de estreia, onde tentou sobretudo adaptar-se aos regulamentos em vigor na época, o ano de 1988 era considerado o ano ideal para mostrar o potencial desta equipa e dos seus jovens engenheiros.  Graças ao génio de Adrian Newey, um chassis radical foi concebido a partir do March 871 de 1987.

Equipado com um motor Judd EV V8 de 3.5 litros, bastante compacto (76º de ângulo entre bancadas) e com cerca de 640 cavalos de potência, o March não dispunha de um motor turbo comprimido como a maioria dos seus rivais da época. No entanto, ao contrário destes, a capacidade do tanque de combustível não estava limitada pelo regulamento. Embora tal pudesse ser o principal elemento para favorecer as viaturas com motor aspirado, Adrian Newey resolveu ir contra a corrente e apostar noutra área.


De modo a beneficiar a aerodinâmica (área pouco explorada na época), o chassis foi desenhado de forma a que pudesse ter uma melhor performance nessa área. Forma estreita, habitáculo exíguo e detalhe nos pormenores conferem a este chassis um grande potencial, bem acima dos seus rivais da época. Em contrapartida, o piloto tem pouco espaço de manobra, o que se torna bastante evidente quando se entra para o habitáculo do March, onde mal cabe uma mosca…

Além do motor, o March recorre a uma caixa de 6 velocidades manual construída pela própria equipa, que se revela bastante brusca em utilização. Facilidade nas reduções é algo que não consta no dicionário deste monolugar, levando a que as transferências de massas sejam bastante inconstantes e levem a alguns momentos de susto…Ao contrário do que aconteceu no GP do Japão de 1989 (onde o piloto Ivan Capelli pilotou o 881 com muito pouco combustível, para impressionar a Leyton House e poder liderar por breves instantes o GP), o nosso 881 conta com o tanque relativamente cheio, o que aumenta substancialmente o problema mencionado.




No entanto, a eficácia da aerodinâmica é facilmente perceptível, pois mesmo contando com peso bastante elevado (o 881 pesa apenas 500 Kgs, sem piloto e líquidos), consegue atingir uma maior velocidade de ponta e criar carga descendente que permite agarrar o March à estrada de forma surpreendente. Neste capítulo, o March destaca-se claramente da concorrência, mostrando uma grande preocupação com o redireccionamento do ar através dos diversos apêndices aerodinâmicos.

No entanto, como há sempre um mas para tudo, o March 881 tem na falta de um motor turbo comprimido e na sua falta de compromissos para potenciar a aerodinâmica os seus principais entraves. Embora o motor Judd EV V8 tenha potência q.b., perde em binário para os motores turbo comprimidos, que tinham um carácter explosivo e podiam facilmente ser ajustados para alcançar potências incríveis. O motor tem uma curva de potência bastante interessante para um motor atmosférico, sendo relativamente redondo, sem grandes picos de potência.


Relativamente à aerodinâmica, a busca pela sua perfeição leva a que o forma do monolugar não tenha qualquer tipo de compromissos. Suspensões e motricidade são aspectos que ficam condicionados por esta tomada de posição radical, levando a que o comportamento do March 881 seja demasiado brusco e inconstante, não dando a confiança necessária ao piloto para poder atacar no limite. Embora ligeiramente compensados pela eficiência aerodinâmica alcançada, em baixa velocidade é notaria a falta de tracção mecânica do 881, o que leva a que a mais simples curva possa ser um tormento…

Embora seja um monolugar bastante competente e avançado em determinados aspectos, a visão geral apresentada é de um chassis com diversas falhas e falta de compromissos em áreas chave para o sucesso. Entusiasmo e rebeldia típica da juventude do seu designer? Talvez sim ;)


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